zerozerozero

terça-feira, setembro 30, 2003


Update on my short film "Nem as Mães são Felizes": editing delayed for one more week because our editor, Renata Baldi, is presenting her documentary at Rio Film Festival this Friday. We also had some problems with importing the material, but things seem to be ok now, so editing will start next Monday. I suppose we will have the video cut one week after that. Film version will have to wait about two months, so I suppose it won't be presented before January.


Update on my documentary. We shot in São Paulo for a few days, during the Zonal Tournament. Some great stuff. I'll post some pictures at Fotolog as soon as I get a chance to see the material.


Estou vindo do Clube de Xadrez Guanabara, onde obtive a minha terceira vitória seguida no torneio interno. Acho que a primeira vez na vida em que ganho três partidas seguidas num torneio. Semana que vem, jogo pela liderança contra o cara que é o atual campeão.

Joguei bem. E fiquei bem feliz de jogar bem.


DESESPERO! quinta de manhã tem pelada no Maracanã e eu não chuteira!!!!!! não tenho como pisar o solo sagrado! alguém pelo amor de deus me empresta uma chuteira???


segunda-feira, setembro 29, 2003


Weird thing happening here. My posts don't get archived. Well, actually you find old messages in the archives, but they are copies from the ones here. Blogger, Blogspot, whoever administrates this doesn't erase old messages from the main page. There are sever month old messages around. No problem for me, but the page might get too heavy at people with slow connections. Any suggestion on what should I do?


O medo dos transgênicos. O medo dos celulares, dos fornos de microondas, da radiação dos monitores de computador. Sei lá o mal que essas coisas fazem. A verdade é que de alguma forma muito McLuhaniana estamos retornando a uma situação muito antiga: a de estarmos cercados por forças que desconhecemos, cujo funcionamento desconhecemos.

Lá na caverna (não a de Platão, a dos Neanderthais mesmo), eu tenho medo do raio que rasga o céu, da lua que se levanta no horizonte, do fogo que queima o mato. E invento deuses e espíritos, e lhes dedico danças e oferendas, para fazer sentido de tanta coisa inexplicável.

Quanto entendemos das coisas que usamos diariamente? quase nada. Quando não se sabe quase nada, se teme quase tudo. Os transgênicos são o raio que cai lá fora e reflete na parede da caverna. Até que um Benjamin Franklyn empine uma pipa na tempestade.


UM assunto que eu evito é esse dos transgênicos. Eu não sei praticamente nada a respeito. E até onde eu pude perceber, as maioria das pessoas também não sabe praticamente nada. Mas mesmo assim têm firmes e inflamadas opiniões, posições irredutíveis. Eu gostaria muito de ver um artigo razoavelmente coentífico que me colocasse diante de pelo menos uns dois ou três fatos. Porque a única coisa que eu percebo é uma vaga noção de que "pode fazer mal". Sinceramente, até prova em contrário isso se parece com o patético medo que as vovós têm de que seus netinhos peguem vento.

Não estou afirmando que os transgênicos são inofensivos. Só estou dixendo que não sei o que dizer, e que me parece que a maioria dos que têm opinião contrária à sua produção também não sabe. Até hoje, nenhum "anti-transgênico" que eu encontrei soube me explicar como, por meio de qual mecanismo objetivamente esse mal ocorreria.


quarta-feira, setembro 24, 2003


Sheri perde a linha:

"This extremely hot guy walked by the front desk this morning, and I did a huge double-take. Kind of like, say, an exotic bird or something flies by, and you just stop and stare all wide-eyed? Uh huh! Transfixed by his beauty, I said, "G-g-good morning!"

Smoooooth.

He smiled in pity, and said good morning. The look in his eyes indicated he is used to this reaction.

What? I couldn't help it! Not that many cute guys stay at the hotel. It's a real tragedy, if you ask me."


terça-feira, setembro 23, 2003


Essa vem da Renata: "Nenhuma das meninas daquela pseudo-banda chamada 'Rouge' sabe o que é Luxúria. Nem a jornalista que as entrevistou, pelo visto - não há nenhuma observação quanto ao verdadeiro significado da palavra. Observem as pérolas que elas responderam quando perguntadas sobre luxúria: 'Eu gosto muito de comodidade, de um ambiente limpo e claro. Imagino a casa dos meus sonhos: uma sala de dois andares com um piano de cauda e um bar, paredes e teto de vidro e de frente para o mar. Eu não vou chorar se nunca tiver isso na minha vida.' 'Eu sempre quis ter um carro na minha vida. Imagino eu chegando num lugar com um carrão, Óculos escuros, falando no celular e com um salto bem alto.' 'Luxúria pra mim, hoje, é ter um carro modelo Jaguar. Eu não esquento a cabeça com carro e não entendo nada, mas quando eu olho um Jaguar fico louca. É um carro que me atrai demais. Fico me imaginando dentro dele.' 'Eu tenho vontade de ter uma casa bem confortável com um estúdio para eu estudar e compor.' 'Tenho vontade de fazer uma festa com o tema medieval em que eu esteja vestida de princesa. Quero isso desde criança. Quis muito essa festa quando fiz 15 anos, mas não tinha dinheiro. Hoje, imagino que um dia possa haver uma razão para organizar uma festa assim.' E o que o Michaelis diz sobre Luxúria: 'lu.xú.ria sf (lat luxuria) 1 Exuberância de seiva, serviço dos vegetais. 2 Cio. 3 Corrupção de costumes, lascí­via, sensualidade. 4 Reg ch (Alagoas) Esperma, sêmen.' Será que elas já sabem que declararam que acham que carros e mansões são sensuais?"


segunda-feira, setembro 22, 2003


Foto publicada hoje no fotolog da Irene.

Uma das mais belas memórias que eu tenho é de ter visto um show de Tom Jobim no Arpoador e depois ter voltado praticamente caminhando pelas águas. Eram umas 6h30 da tarde e havia um banco de areia há uns 20-30 metros da praia, e boa parte do povo que assistiu o show voltou por ali, gente vestida, a água batendo nas pernas de uma fila de gente feliz. Naquele momento, Ipanema era só felicidade.





domingo, setembro 21, 2003


ai, que sono. vao começar uma semana daquelas. amanhã, trocentos trecos pra escrever. terça, outros trocentos (e meu jogo de xadrez, sagrado). quarta clara vem pra cá, e sabe-se lá o que vão me mandar escrever. de quinta a sábado filmando. ufa, já tô cansado. boas noites, senhoras e senhores.


Mudei o sistema de comentários (tava usando um que dava muito bug). Infelizmente, perdemos os papos antigos. Fico com muita pena de perder os comentários, e quem os escreveu, desculpe o mau jeito. Aguardo novos comentários de todos.

I had to change the comments system, because the previous one was unstable. Unfortunately, all ld comments got lost. I'm very sorry for deleting all the comments, but please, you people who posted here, don't feel erased from my virtual life. I'm looking forward for the new comments from everyone.


Scripts, tutoriais, java, javascript, t-shirts! tudo de bom para o seu blog, o seu browser, o seu tudo na internet - e free! exceto as t-shirts - você encontra nos Acme Laboratories!


sábado, setembro 20, 2003


You have to read a blog in which you find something like this: "On my way to a new job across country, I stopped at a friend's place in Montana for a night. She grew up with me in the old neighborhood. After a few beers, she told a story involving me, a pistol, and some poor guy's head. I was shocked, and had completely forgotton the incident. Was that really me? I suddenly I realized that I've got hundreds of stories like that, from growing up not exactly poor but still surrounded by guns, drugs and violence in a West-Coast city for a decade." (from Gangstories)


Angela achou esse relógio incrível. Angela found this incredibly cool clock.


sexta-feira, setembro 19, 2003


I was 15. It was in the Middle Ages, long before the web, long before you could find imported magazines in our newstands. It was 1977. That was exactly when I started to get a little interested in films that were a little different than those all my friends went to see. So, I decided to check out an Italian film I never heard anything about.. The Brazilian title of the film was "Tentação Proibida". Director, Alberto Lattuada - who happens to be a minor figure in the New Realism movement in Italian Cinema of the 50's, but I didn't know that in 1977 - starring Marcello Mastroianni and... and a young, 17-18 year old girl called Nastassja Kinski.

I'll never be able to describe the impact the beauty of hers had on my 15 year-old eyes. And she walked around during most of the film (if my memory is not playing any tricks on me) naked, sweetly naked, perfectly naked. The naked body of Nastassja Kinski was - I now confess - the first female naked body I saw in my life. And it was perfection, joyness, everything, simply everything.

If I was 15 when I saw "Stolen Beauty" I'd probably feel the same about Liv Tyler, whose beauty is of the same sort: fresh, free. In 1977 we didn't have the web, the Internet Movie Database, the imported magazines. But those were, in many ways, more generous times. The 15 year-old boy of today couldn't see Liv Tyler naked as I saw Nastassja Kinski. He could not develop a sense of perfection in the form of human flesh as accurately as I did.





Angela and I just saw Bertolucci's "Stolen Beauty". She had seen it before, I haven't. It is one of those films that's quite far from perfect, but for some reason is lovable, lovely. Won't you say anything about Liv Tyler? Can I? like I could. Like I could write that well, in English, or in Portuguese.


I read somewhere, some of my favorite blogs most likely, someone saying he or she could not imagine anything more boring than Sylvia Plath and Ted Hughes making love. Well, I can ge the point, but it looks like the guys who made the movie Sylvia think differently, as you can see from this photo I found at A Pink Panther:





Budapeste, o livro do Chico, parece um Kafka que tivesse lido o Calvino de "Se Numa Noite de Inverno um Viajante" e gostado muito. Ou um Calvino que quizesse fazer um kafka latino. E eu não falo em Kafka por causa do leste europeu que tem no livro desde o título. Tem humor de Kafka, na história dos jovens ghost writers que emulam em tudo o ghost writer protagonista. Tem Kafka nos sonhos do personagem. Tem Kafka nessa sensação meio pena que se tem do personagem que sempre vai perdendo oportunidades para que as coisas dêem certo, que vai se afundando mansamente.


The guy who makes this blog is a filmmaker doing a documentary about... blogs. Check out his website, it's a very interesting project.


quarta-feira, setembro 17, 2003


Um dia eu fui à feira e vi um alface despencar no chão, sobre uma poça d'água. O verdureiro pegou o alface e dava para ver que ele estava pesado e sujo. Tem horas em que meu cérebro dentro da minha cabeça é esse alface pesado, encharcado.


Agora, todos os editais de concursos do Ministério da Cultura dizem que os projetos, para serem apoiados, precisam falar sobre a diversidade cultural brasileira. Veja um exemplo:

" Serão apoiados 7 projetos, sendo 4 com orçamento de até R$ 600 mil e 3 projetos com orçamento de até R$ 800 mil, para diretores de primeiro e segundo filme, nos gêneros ficção e/ou animação, sobre a diversidade cultural brasileira. "

Não é engraçado? eu achava que o que falava da diversidade da produção cultural era a existência de filmes, livros, peças, shows de todo tipo. Ficando no caso do cinema, digamos que tivéssemos um universo de 5 filmes por ano. Se um deles for um filme absolutamente urbano, paulista, cheio de gente rica, outro fosse uma comédia passada na floresta amazônica, um terceiro fosse um drama sobre conflitos de terra no centro-oeste, um quarto filme fosse uma chanchada meio erótica e musical baiana e o último fosse a biografia de um alemão desbravador de Santa Catarina, não teríamos nenhum filme falando da diversidade cultural, mas o todo da produção cultura falaria exatamente disso. Seguindo a recomendação do ministério, teríamos cinco filmes sobre... o que? o que é a diversidade senão a soma de incontáveis pontos-de-vista diferentes.

Acho tudo isso um saco, uma besteira, uma baboseira populista, simplista, primitiva, atrasada.


Comprei o livro novo do Chico Buarque, "Budapeste". Compra de impulso. Tava no shopping, entrei na Timbre, vi o livro, li o trecho que tá na capa, comprei. Sei que vou ler voando, talvez hoje mesmo - furando uma fila imensa e interrompendo a deliciosa leitura do Cassavettes, que é um livrão de umas 400 páginas pelo menos.

Tem muita gente que implica com os livros do Chico. Tem gente até que fala em plágio. Bullshit, bullshit. Eu gosto do "Estorvo", com a ressalva de que acho o filme (que é todo defeituoso) melhor. E eu gosto muito do "Benjamim".


Hi all. I just added to my already too crowded left-side of this page a new and interesting link. It's a discussion page. Sometimes people have specific things to say about one specific post, so they comment on the post. But we could also have more general subjects, and this discussion space would be just perfect for that. Here is the link:
Discuss zerozerozero


Olá todo mundo. Acabei de adicionar à já entupida coluna da esquerda desse blog um novo item. Trata-se de uma página de discussão. Então, ficamos assim: quem tem comentário sobre um post específico, comenta no post. Para bate-papos e bate-bocas mais gerais, usem o...
Discuss zerozerozero


Em xadrez tem um ditado que diz que nada é tão difícil quanto vencer uma partida que está ganha. Fazendo um paralelo, nada mais difícil que escrever uma história que já está escrita - na nossa cabeça. Eu tenho umas idéias que me parecem tão claras e cristalinas na cabeça que chega a dar preguiça de escrever. E quando afinal começo, nem sempre consigo. No xadrez, muitas vezes você olha uma posição e avalia: "tá ganho, por isso, isso e aquilo". Muito bem, só que falta jogar até o final, e ganhar. Se a história estivesse tão clara assim, tão pronta, não seria difícil escrever. Uma história não está pronta se não está toda escrita, quando não se passa pela dureza de cada linha, pelo risco do tropeção a cada palavra.


terça-feira, setembro 16, 2003


Pornografia na Amazônia. Incrível, fantástico e extraordinário. Informe-se no B*Scene.


segunda-feira, setembro 15, 2003


This is from "Brukoworld": "Sometimes I happen to spend a lot of time doing something useless but coherent. Call it "project" is a way to justify the time I lose on this stuff rather than an indication of an actual mental scheming."

Spending a lot of time doing something useless but coherent could be my middle name. The very essence of most of what I've done (and of a lot of what I admire) in life.


Ótimo filme (ainda) em cartaz: "O Show Não Pode Parar". Ótimo mesmo, para não perder de jeito nenhum.
I've just seen "The Kid Stays in the Picture" and loved it. A film not to lose at all.


Essa foi mesmo ver o filme.

Valeu, Ultra, fiquei feliz da vida. Em companhia do Woody Allen, então.


Pegando jacaré in the brilliant laura Holder not com : "MEANWHILE, AT THE BEACH: 'Wow I totally caught that wave like. I love body surfing, yeah.' 'Yeah I saw that.... So why do you hold one arm out in front of you while you're like totally riding on that wave with your body, with the other hand back behind you?' 'That? Well yeah. See like, that's for hydrodynamics. Yeah. I musta learned that in Costa Rica, from like some surfers probably; definitely. You put one arm out in front of you like, like this see? See it keeps your solar plexus wide open, for rising high, up, up above the crest of the wave, to maximize rade-wiving hydrolocomotion. yeah. And the other arm, it stays back. Back by your side. To like increase the speed. The one hand out front, it's out there to guide you towards shore and... well the one that stays back has to like anchor you from flipping over. I'm, um, I'm pretty sure that's like exactly why.'"


What a cute thing to say. At madpony.com: "twice in this day i have been touched by death, and that's a lot of emotional chaos for a girl with a pink website to cope with."


Essa veio do A Pink Panther: "40-year-old Copo de Nieve (Snowflake), the only albino gorilla in the Barcelona zoo, Spain. Zoo specialists said that the gorilla was suffering from leather cancer and that his life expectancy is of about three months".
A falta que faz um filtro solar.


Um dia, tô em casa e a Ângela chega com uma geléia de morango. A marca da geléia: Doces David. Veja você! O nome já era bom o bastante, a gente nem esperava que a geléia fosse gostosa. Pois era, e muito. Ficamos fãs. Depois da de morango, foi a vez da de framboesa, depois amora, ameixa e maracujá (fora uma goiabada). Todas ótimas. Aqui no Rio, encontramos os produtos numa lojinha na Cobal do Humaitá. No site deles tem uma lista com outros pontos de venda, aqui e em outras cidades. Eu recomendo.


O assunto é a passeata pela paz em Copacabana. Imagina o seguinte: o bandido tá lá no muquifo dele, cercado de outros bandidos, drogas e armamento pesado. Tá enfiado num burado quente, no Complexo da Maré, no Turano, treco assim. Aí ele vê a passeata pela paz na televisão. Um monte de gente branca de camisa branca, artista de novela, coisa e tal. Segue a cena:

Bandido 1: Pô, aê, protesto contra a violência.
Bandido 2 (demonstrando espanto sincero): É mermo?
Bandido 1 (também sinceramente espantado): É. Nunca tinha me tocado que neguinho não curtia violência.
Bandido 2: Acho que devemos imediatamente parar de matar pessoas
Bandido 1: Puxa, eu nunca imaginei que incendiar ônibus com idosos dentro, fuzilar carros aleatoriamente e executar mães na frente de seus filhos menores de idade incomodasse tanta gente.
Bandido 2: Pois é. Mas parece que incomoda.
Bandido 1: Ah, ainda bem que o pessoal da Zona Sul deu esse toque, a gente tava mandando mal e nem sabia.


domingo, setembro 14, 2003


Achei esse micro-conto, escrito provavelmente há uns dois anos, na primeira página de um caderno:

O fio de sangue se enrosca à água e desce pelo ralo da pia. Uma mulher mostra a língua para o espelho. Mostra os dentes. Enche d’água a mão em concha. Bochecha e cospe a água. Não tem mais quase sangue na água cuspida dessa vez.

A mulher tem uma perna atrofiada. Está nua diante da pia, de pé sobre a perna boa, a perna murcha e uma muleta. Alguém bate na porta do banheiro. Ela não abre. A pessoa que bate à porta insiste. “Você vai se machucar, diz a voz, “deixa eu te ajudar”.

“Não deixo”, ela pensa, mas não diz. “Não deixo”, ela insiste em pensar e não dizer à pessoa que continua batendo na porta, do lado de fora do banheiro.

O banheiro é pequeno, e para chegar ao aquecedor com a perna murcha, perna boa e muleta, ela tropeça e dá topadas. Mas chega. Risca o fósforo e acende o gás. Mete a mão para dentro do boxe e abre a água. A pessoa lá fora insiste: “você vai cair, minha filha, você vai se machucar”.

A filha da pessoa que bate na porta senta na privada. O barulho da água e do aquecedor quase abafam as batidas lá fora. Ela toma fôlego e se ergue.

Entrar no boxe é uma façanha que ela realiza de cenho franzido. Enfim sob a água quente, a cabeça toda dentro da água quente, todo o franzido se dissolve. Num instante a água dilui a tensão em feixes e mais feixes de músculos retesados. Tensos, apenas os dedos das mãos, agarrados a uma alça na parede, de um lado, e à porta do boxe, do outro.

A tensão nos dedos se afrouxa. Ela escorrega e cai de bunda, baque seco no chão úmido de azulejos. “Caí de bunda”, ela pensa. Pensa e ri. “E daí? A bunda é minha”.


sexta-feira, setembro 12, 2003


Toda essa gente se engana, ou então finge que não vê que eu nasci pra ser o superbacana.
Hora de mudar o imood pra feliz.


Hoje, no bloggete da Angela:

"O tempo demora tempos diferentes. Todo mundo sabe. Uma hora na sala de espera do dentista é uma longa hora. Uma hora na aula de química são 3 dias. Uma hora sem fazer nada gostando de fazer nada num dura o tempo de olhar pro relógio e ver que já tá na hora."



O blog da semana, do mês, do ano, do século é o incrivelmente mau-humorado, hilário Catarro Verde. Reproduzimos aqui uma discreta amostra da verve do autor:

"Tava lendo sobre astronomia no Uol/Inovação. O Instituto de Astronomia de Cambridge descobriu que os buracos negros cantam! Oras, isso eu já sabia há muito tempo. E jamais gostei, digamos assim, do timbre. Nem da afinação.

Os astrônomos também lembram: "Buracos negros são regiões do espaço com tamanha força de atração gravitacional que chegam a sugar até mesmo a luz ao seu redor". Não que eu pretenda dar contribuição científica, mas conheci um buraco roxo parecido."

Atenção: esse não é nem de longe o melhor exemplo do que se encontra por lá.


A pearl from another blog,Venus im Pelz: "you know how there are real bloggers? who have layouts that are not variations on one prefab blogger code or another? and who write savvy political commentary and link to articles in the new york times and the guardian? these people sometimes have online stores where they sell their book and maybe tshirts and kitchen tiles and frisbees with their logo on it. powered by cafepress! i would love to be one of these people. not that i want to write savvy political commentary or start reading the news, but i would like to provide the world with t shirts with my little pink dress logo. of course since everyone who reads this blog is a boy in another country, that might be a little too femme. maybe i will go with the sue lyon. she's a classic."


Afinal, liberaram para exibição pública o genial curta-metragem de Glauber Rocha, "Di". Filmado em pleno enterro de Di Cavalcanti, o filme é gloriosamente anárquico. Até outro dia, só podia passar clandestinamente, ou no exterior. Eu me orgulho de ter sido um dos muitos que viabilizou exibições do "Di". Levei o filme para o festival de Kalovy Vary, na República Tcheca. Levei literalmente debaixo do braço.


Mandarin Design Daily:The MEG Blog is a collection of very practicals bits of advice on webdesign for bloggers. They focus on short lines of code you can copy and paste, small funny things to do with ilustrations (like coca cola bottles, for instance), tools and brief tutorials of stuff like css. It's cool. If I wasn't so lazy I would study it a little and make this blog look a little less dull.

Here is a little example of what they have (I just copied the code form them, as they suggest)


COCA-COLA SALAD

1 C Water
1 C Sugar
1 6-1/2 oz. Bottle Coke
2 3 oz. pkg Cherry Jello
1 C chopped pecans
1 6 oz. jar Maraschino cherries, chopped
1 16 oz. can pineapple, crushed





Mix water, sugar, and Coke in saucepan; bring to boil.
Pour mixture over Jello.
Add pecans, chopped cherries, and pineapple.
Mix well.
Chill until firm.
Serves 6


The blog called Ass Be Gone, if I did really understood it (some times women's webloging is a little bit hard to get), is the well humoured, ilustrated effort of two women to keep track of their ongoing fight against fat.


O trabalho braçal que estou fazendo é o de revisar meu (colossal) arquivo de bookmarks. Ele é realmente imenso. Vem sendo colecionado há bastante tempo. Veja só: eu tinha uns links no browser, provavelmente Netscape 4. Um dia importei aquilo pro Yahoo Bookmarks. Depois juntei, no mesmo Yahoo, com os links do Explorer pra Mac que eu usava no trabalho. Mais ou menos um ano atrás, importei tudo isso do Yahoo pro Explorer 6 aqui do PC de casa. Acontece que eu não consigo usar muito tempo as tralhas da Microsoft (tenho alma de beta tester, não posso ouvir falar em software concorrente, novo ou obscuro). Passei a usar o Netscape 7 (que automaticamente importa os "favoritos" do Explorer, que por sua vez eram aqueles do Yahoo, que por sua vez... você não se perdeu, né?). O Netscape 7 é lindo, mas meio lento nessa minha máquina. Botei o Opera. O Opera importou tudo, claro. Fiquei usando Opera um tempão, todo feliz. Ele é ultra rápido, cheio de truquezinhos que são maneiros e fáceis de usar. Aconteceu porém que o programa de email do Opera me fez um falseta, apagou umas mensagens que não podia. Eu poderia voltar a usar o Eudora para mail e ficar com ele só de browser, mas não deu, fiquei afim de novidade. A í descobri o Mozzila. O Mozzila é, na verdade, a versão open source do Netscape. Acaba sendo melhor porque é atualizado com mais frequência. Na página do Mozzila descobri um treco que é a minha cara. Um, não, dois: o Mozzila Firebird (browser) e o Mozzila Thunderbird (email client). Bonitinhos, ultra rápidos, leves, open source, e (o Firebird) com o melhor sistema de proteção contra janelas pop up que eu já vi. Lindos os dois, adotei, escolhi skin, tô usando. E,. naturalmente, importei pro Firebird os favorites-bookmarks whatever you call it. Tenho navegado muito, e colhido montes de outros endereços (especialmente de blogs, fotologs e xadrez).

Resultado, minha coleção de bookmarks é tão imensa que eu precisaria de um searcher para usá-la.

Estou nesse momento organizando, limpando, varrendo, faxinando, dando um jeito naquela zorra. E, à medida em que for achando coisas legais, boto aqui. Falou?


Tá mal escrito pra cacete esse treco aí embaixo. Mas a idéia dava um post legal, eu sei que dava. Escrever tem isso de chato, tem dia que você não manda bem de jeito nenhum. Escrever é difícil pra caralho. (excuse my French)


Então os anos 80 estão voltando. Ok, no problem. Já inclusive falei do assunto aqui nesse blog (scroll down, please). A questão que me ocupa agora é outra: daqui a pouco, faltarão décadas.

Não sei dizer quando o conceito do "retrô" passa a existir. Sendo basicamente uma idéia cretina, deve ter sido coisa da minha geração, nos anos 80. Mas um pouco antes disso, embora de forma ainda desatrelada da indústria e da publicidade, pode-se dizer que na (contra) cultura dos anos 60 podia haver alguma coisa do espírito libertário dos anos 20. O gosto pelas vanguardas, o formalismo etc. e tal. Essa onde teria durado (se houve de fato) até perto do final dos anos 70.

Nos anos 80, inventamos de brincar de Humphrey Bogart e/ou de Bela Lugosi. A onda eram os 50. Isso durou até o final da década, mais ou menos.

Os 90, tanto quanto eu sei (nessa época eu andei muito distraído), começaram com caras-pintadas, Claudia Abreu na televisão fazendo "Anos Rebeldes" e figurinos sixties logo começaram a aparecer nas ruas. Caetano fez a música "Cinema Novo" e não sei que loja inventou umas camisetas gigantes com cartazes de "Deus e o Diabo na Terra do Sol". Isso não durou até o fim da década/século/milênio. Em 99, 2000, já rolava a onda Simonal. Eram os 70's de Boogie Nights.

Três anos depois, essa onda já acabou. Quer dizer, no mainstream continua, é só ver os comerciais da Motorola e o pilotis da PUC. É claro que se alguma coisa já chegou a ser preponderante nos comerciais de multinacionais e nas universidades patricinhas, é sinal de que já não está com essa bola toda.

Quanto tempo irá durar a onda 80's? Não cheguei a plotar os dados em gráfico, mas duvido que emplaque o segundo semestre de 2005. Assim sendo, em setembro de 200 estaremos vivendo o revival dos 90's. Que será substituído em menos de um ano por... o que?

Imagino que logo teremos ondas revival de meses. Ah, agora tá todo mundo numa releitura de março de 2001. Mas isso já está passando, quente mesmo é abril.


Meu direito de ir e vir está violentamente comprometido. Eu que gosto de andar por aí. Ruim da cabeça e doente do pé, queria ir e não vou, queria perder tempo, e não perco do jeito que eu queria. E os dias vão passando.


quarta-feira, setembro 10, 2003


Ontem teve a pré-estréia carioca do "O Caminho das Nuvens". O filme estréia, nas principais cidades brasileiras, na próxima sexta. Eu escrevi o roteiro - é o meu primeiro roteiro de longa a finalmente chegar às telas - e estou bem feliz com o resultado. O filme se parece com o que eu escrevi. Se é que eu me lembro bem do que escrevi. O processo todo é tão longo. Tudo começou em outubro de 1998, quando o Vicente, diretor do filme, teve a idéia de contar a história real de uma família vindo de bicicleta do nordeste. Luiz Carlos Barreto gostou da idéia, e disse para ele arrumar um roteirista. Ele me indicou, e em dezembro começamos a trabalhar. Durante três meses, fizemos pesquisa. Depois, mais de um ano de redação do roteiro, uma interrupção de alguns meses, depois outro trabalho de finalização. No fim das contas, o roteiro, iniciado em 99, só ficou pronto mesmo em 2001. Pronto e bom, modéstia à parte. Com ele, fomos finalistas do Sundance NHK Latin America, classificamos pros Manheinn Meetings, fora mais uns prêmios menos cotados. Dois anos depois do roteiro ficar pronto, o filme estréia. Agora, estou escrevendo outros roteiros. Pensar que vai levar um tempão antes deles virararem filme dá uma certa canseira. É uma vontade decisiva de escrever e filmar os meus próprios, à minha maneira, o mais rápido possível.


Are you in the Toronto area? go see "The Middle of the World" at the Toronto Film Festival, tomorrow, 9/11, 9:30pm or Saturday, 9/13, 9:30am. Why? because I wrote the damm thing! It's my first feature film script to reach the screens.


I won't be able to start editing my short film befoire the 20th of September. Editing equipment not available before that. I'm not sure I can handle all this suspense!


terça-feira, setembro 09, 2003


Um dos melhores livros sobre cinema que eu já li, se não for o melhor, é o Hitchcock-Truffaut, série de entrevistas com o cineasta inglês, conduzidas pelo cineasta francês. A única edição brasileira do livro, uma belíssima edição por sinal, saiu no começo dos anos 80, esgotou-se em pouco tempo e nunca mais foi editada. Não se acha, nem em sebo. E, desgraça maior de todas, eu não tenho um exemplar! a vida assim é muito dura. Aquela edição é mais legal, em termos gráficos, mesmo que a edição americana. Ó mundo cruel.


Agora estou afim de encher esse blog de todo tipo de gadgets babaquices. Botei o imood, que já deve ser a maior de todas as babaquices inúteis. Tá aí do lado, e reflete o meu estado sonado de hoje, depois que um vendaval me acordou às 15 pras 6. O que mais? sei lá, vou sair catando por aí. Quem tiver sugestões de babaquices inúteis (ou não) instaláveis num blog, deixe seu comment. A casa agradece.


Second worst moment in the life of a screenwriter, after the approaching the deadline moment: the waiting for feedback moment. Can you believe I wrote like a madman all day long since Sunday and the guys didn't return to me, like, imediately? because they should have done so. why do they sleep instead of reading what I wrote and commenting it, and loving it and saying, hey david, get some more money, you're such a genious.


segunda-feira, setembro 08, 2003


Aberta a temporada de caça. O Ministério da Cultura abriu concursos para desenvolvimento de roteiros, documentários e curtas-metragens. Documentário, mole, vou inscrever o projeto do Mequinho. Roteiro, tenho que inventar uma história. Na verdade, eu já tenho uma ótima, mas acho que não encaixa na onda variedade cultural. Classe média não é variedade cultural.


Oh, and last but not least, world's number one Garry Kasparov will play a 3-D version of Fritz, the number one chess software, in a huge event in New York City to be broadcast by ESPN.

Meanwhile, I do my best to make my documentary about Mecking.


Last Saturday, chess world's woman vice champion Alexandra Kosteniuk played a simultaneous exibition - that is, she alone played against a number of opponents at a number of different chess boards, something good playes do - against opponents that were at different locations in Amsterdam, all of them using their cell phones to transmit moves to a big screen in the room where Kosteniuk was. Here is a picture of the event.



In Europe, more and more events connect chess and high technology. In Hungary, two teams of grandmasters played against each other with the help of broadband internet conections and huge databases of games. More and more, chess and technology blend into some sort of techno show.


Well, work done. Now let's the feedback. And the next deadline.


deadlines, deadlines, deadlines, one day one of them you kill me


Here is something not to miss: the small world project. I entered and am already trying to connect with a few completely unknown persons.


New set of characters, new idea, new director, a whole new situation and the same deadline: tomorrow afternoon. I have to write well and fast, get a feeling from I guy I didn't even knew 48 hours ago, about characters I don't know quite well, and write a synopsis. Piece of cake. The big question is what am doing posting here instead of writting?


domingo, setembro 07, 2003


Depois lembrei de Blue Velvet, e imaginei um tom de pesadelo para o final. Tomara que o diretor goste. Escrever para os outros tem isso de bom, a gente não fica com a última palavra.


Tô desde de manhã às voltas com um problema num roteiro que estou escrevendo. De repente, botei um personagem dentro de um carro, buzinando para pegar uma garota. O cara não vale nada e a garota tá louca por ele. Escrevi isso e vi Belmondo em "Acossado". Isso me deu uma idéia. Que tal uma arma no porta luvas? Angela leu e sugeriu uma mulher invadindo a casa da garota. Boa idéia. A girl and a gun. A film is a girl and a gun. Now I have both e o roteiro volta a andar. Mas, eu lembrei no Belmondo porque escrevi a cena ou eu escrevi a cena porque já ia me lembrar do Belmondo?


Cute chess girls:


On the left are of this blog, you will find the last pictures I posted at Buzznet. Well, if I am able to insert it in the blog template, of course.


Atenção: tô postando fotos do meu curta num novo endereço: Buzznet!

Attention: now you find photos of my short film at Buzznet!


Cassavetes talks about the actor in the movies:
"Nobody defends the actor who has to put the character on the screen. I don't defend the actor because I love the actor. I defend him because I know that without him I'm going to look like an idiot, and with him he's going to make me look like a genious. I want to get the live emotional truth across, and you can only do theat by giving the actor his head to live his part and create it as he goes along."


sábado, setembro 06, 2003


Everytime I am working on a new film project - not the ones people pay me to do, no matter how good those projects are, I mean the very personal ones, the ones I do because I want to - so, back on track, everytime I am working on a new film project I choose a book, by or about a filmmaker, to read while I plan, think, shoot and edit the film. During the time I did my first short film, I used to read "L'Atelier d"Alain Resnais", a beautiful collection of interviews with the regulars in the Resnais film family: a few of his regular actors, his favorite screenwriter, photographer, script girl, editor. The interviews were deep accounts on their professional relationships and work methods. One of the best books about moviemaking that I have ever read.

The one I am reading now, and that will always be connected to this moment, to the making of the short film I finished shooting yesterday, is "Cassavetes on Cassavetes". The book mixes interviews with director and actor John Cassavetes and texts written by Ray Carney from research. I'll post here my impressions on it, alongside with some quotations. It's a great book about a great character.

It's actually the second time I try to read this book. In the first try I gave up because I simply hated Cassavetes as portraid in the book! Now I am reading it again, and I realize that, yes, the guy deserved to be hated, but the artist is interesting. It's a great book, with lots of inspiring stories about film, actors, producers.

More about it tomorrow.


É injusto chamar de videolocadora a Cavideo, aqui na Cobal do Humaitá. A Cavídeo é o menor centro cultural do mundo, e o mais vibrante do Rio de Janeiro. E isso não tanto porque lá você encontra filmes que não se acham facilmente por aí. A troca de informações dentro e em torno da minúscula lojinha abarrotada é incrível. Tem sempre cartaz de casting pra curta-metragem e estréia de vídeo underground. Frequentemente ambos acontecem - casting e estréia - ali mesmo ou nas redondezas. Encostado ao balcão, praticamente impossibilitando a escolha de pelo menos 25% dos filmes, você encontra bandas completas com seus instrumentos esperando hora de ensaio, trupes de atores, jovens críticos de cinema. Também é comum precisar interromper um acalorado debate entre seus atendentes sobre os méritos de Todd Solonz e P.T. Anderson, para ser atendido. Às vezes fico afim de me meter, mas tenho segurado a onda.

Além do movimento cultural espontâneo - fílmico e musical, principalmente, mas também teatral e até literário - a própria Cavideo gera seus eventos. No momento, está em cartaz uma mostra dedicada aos anos 80. Sim, os anos 1980, entre 1981 e 1989, sim: aquela época em que eu e a maior parte dos meus amigos tínhamos a idade dos atendentes da Cavideo e, na porta do Estação Botafogo, discutíamos os méritos de Almodóvar e Lynch enquanto vendíamos ingressos.

É primeira vez em que uma década na qual eu já era adulto é objeto de um revival. É bem estranho isso, aliás. Eu já tinha notado que a onda 70's estava passando. No mundo virtual, já há alguns meses havia claros sinais do interesse pelos anos 80. Sites de fotos e festas dedicados ao trash daquela década já são comuns. Mas o evento da Cavideo tem o efeito quase que de oficializar isso.

Tem mostra de filmes, teve festa (ou está tendo, acho que é hoje) e exposição de objetos, tais como Ataris, LPs e brinquedos "típicos". O mais curioso é o recorte de uma década feito por quem não a viveu. Quase que necessariamente, esse recorte do que há de bom e de interessante numa década é em grande parte muito diferente do julgamento dominante na própria época, pelos seus, digamos, "atores".

Nos anos 80, o que interessava eram os anos 40 e principalmente 50. Humphrey Bogart e sua capa. Oscarito e seu Otelo. A santíssima trindade do horror formada por Vincent Price, Peter Cushing e Christopher Lee. Líamos Dashiel Hammet e Raymond Chandler, depois de desenterrar Kerouak e Joe Fante. Ah, e amávamos despudoradamente Zé do Caixão e Zé Trindade. Naturalmente, da produção contemporânea interessava aquela que se filiava aos gêneros clássicos do cinema americano - o policial "noir", o western, o musical, o terror - fosse pela via da referência e atualização (caso de "Blade Runner" e "O Fundo do Coração"), fosse pela via da homenagem direta ("Hammet" é o exemplo mais típico) ou fosse ainda pela da sátira (como nas comédias de terror de Ivan Cardoso).

Os jovens aspirantes a intelectuais, a cineastas e a críticos dos anos 80 faziam um recorte dos anos 40 e 50 que muitíssimas vezes não coincidia com a dos intelectuais, cineastas e críticos... dos anos 40 e 50. O nosso entusiasmo pela chanchada é o melhor exemplo disso. O culto a "Casablanca" e "Gilda", que nunca entraram em lista de melhores filmes de todos os tempos antes de 1979, também são bastante exemplares. Os jovens intelectuais dos anos 40 e 50, tanto quanto eu sei, se interessavam por Orson Welles, pelo neo-realismo italiano, por Bergman, Dreyer e Kurosawa, e realmente não davam a mínima, quando não execravam abertamente, para o cinema de estúdio hollywoodiano e suas paródias feitas aqui pela Atlântida.

Então, gostávamos de "Rumble Fish" e de "Fome de Viver". Mas o que está na exposição e na mostra da Cavideo é bem diferente. O destaque, por exemplo, é uma retrospectiva das comédias adolescentes de John Hughes. Eu, que sempre gostei muito de "A Garota de Rosa Choque", me senti pessoalmente homenageado. Mas é engraçado se ver numa completa inversão de posição. Eu agora sou o que aqueles jovens dos anos 40 e 50 eram para nós. Alguém que não sabia ver o que de fato era bom no seu tempo.

Será que conta alguma coisa eu dizer agora, em minha defesa, que fui dos primeiros a achar "Blade Runner" superestimado, e certamente o primeiro de todos a declarar publicamente que o chamado (por mim mesmo, aliás) "cinema referencial" - aquele feito essencialmente de citações de filmes e gêneros clássicos, tipo "A Dama do Cine Shanguai" - era um treco estéril, bobo, besta e chato?

Confesso, morro de curiosidade para ver o que, daquele tempo, esse povo vai resgatar. Do que vão rir, o que vão imitar. Só espero, sinceramente, que não sejam os cortes de cabelo.


quarta-feira, setembro 03, 2003


I am little bit hysterical. There's shooting tomorrow for the short film. My daughter wants attention. People who hired me to write want me to - guess what - write. I have to do every little thing right. Shoot, take care of daughter, write: no mistakes, no mistakes at all.


terça-feira, setembro 02, 2003


I hate the telephone. I hate to make phone calls. If it is something I can get set by email messages, oh, how happy I am. I can fix a peace treaty for the israeli-palestinian imbroglio if email is all that's needed. But if phone calls are needed... I can't even fix a doctor apointment. I have phone calls to make and I procrastinate all day long. Here I go. Look, I'll make the phone calls. Hey, just a minute, I have to pee first.


Quando lançaram "Femme Fatale", do Brian de Palma, com Antonio Banderas, eu pensei: não vejo. Banderas, pós-almodovar, é certeza de porcaria. Dá até vergonha de entrar no cinema com cartaz de filme dele na porta. A assinatura de Mr. De Palma nunca foi certeza de nada também. Ignorei. Quando o filme pintou nas locadoras, deu uma certa tentação de pegar. Lembro vagamente de ter havido quem dissesse até que era bom. Angela pegou o DVD ontem, afinal, e à noite, encaramos. O início é até legal. Depois não. Depois piora. E piora e piora até que chega. E então, sem nenhuma intenção de ser engraçado, brotou-me nos lábios uma expressão: "esse filme é um triplo peido". A expressão veio assim inteira, como uma revelação.


segunda-feira, setembro 01, 2003


I find the following text on a blog, after a search for chess films (other than mine):

Man vs. Machine


Garry Kasparov, chess grandmaster, faces the arduous Deep Junior in the One Million Dollar Chess Championship. Deep Junior, three-time world champion, won the last official world chess championship for computers in July 2002, in Maastricht, Netherlands, against 18 other machines. Deep Junior has the calculating power of 3 Million positions a second, compared to Deep Blue (who defeated Kasparov in 97) who could only calculate 2 million positions a second. The 6 game chess match is at its 5th game today! with the series tied at 2 points to 2 points (a win apiece and two ties). For the series summary go here. For a brief history of man vs mechanical chess go here.


Stephen Hawkins claims man's status as evolutionary bigwig is limited and that we must make allies of computers. Perhaps he saw 2001 Space Oddessy and thought it was a documentary. Perhaps. Perhaps Kasparov will lose and the human mind will no longer dominate chess. Perhaps. But where is Bobby Fischer? Our nation turns its lonely eyes to you...


Experimenta contar para um garoto de oito anos que quando você tinha a idade dele não existia controle remoto. Que você precisava levantar de onde estivesse e fazer toc-toc-toc num botão para mudar de canal, e fazia-se esse esforço para escolher uma entre, deixa eu ver, três ou quatro opções. Não precisa dizer a ele que a TV era preto e branco e que não tinha vídeo. Só a ausência do controle remoto e a miséria de opções bastarão para que você veja nos olhos dele o que eu vi nos do meu sobrinho: dó, incomensurável dó.

Mas hoje eu não sou mais um pobre diabo. Eu tenho o poder, eu tenho TV a cabo e controle remoto. Esparramado na cama, exerço meus direitos. Por perto, sem prestar muita atenção á Tv ou muito menos a mim, o filho da minha namorada – esse tem cinco anos e eu nem ousaria tentar explicar a ele o mundo pré-histórico em que fui criado – brinca com um trem. De trilho, como ele gosta de frisar: “trem de trilho”.

No GNT, pego um bonde pelo meio: homens e mulheres, ingleses de britaníssimo sotaque, falam alguma coisa sobre homens e mulheres. Uma mulher, fresca como só uma inglesa e ainda por cima rica pode ser, diz que já foi a show de strippers masculinos e não gostou porque são todos anabolizados e, aparentemente por isso, fedem a queijo. Escutar aquela mulher dizer que eles “smell like cheese”, alongando um “ee” de desprezo, me prendeu ao programa do qual já pretendia me descarrilar.
Quem fala em seguida é um homem. Não sei quem é, mas sei que é culto e inglês e tem aquele senso de humor das pessoas cultas e inglesas. Ele diz que, sim, as mulheres foram durante séculos e séculos tratadas como seres intelectualmente inferiores, que não deveriam cansar suas cabecinhas lindas com problemas. Isso era obviamente incorreto e injusto. Mas o que vemos hoje é um mundo em que o discurso dominante é o de que a mulher é um ser sensível, inteligentíssimo, refinado, preocupado com a defesa do meio-ambiente, das crianças e da paz, enquanto o homem seria mais ou menos uma besta-fera interessada tão somente em cerveja e futebol. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, seria o arremate perfeito, se o moço culto falasse português. O papo tá bom, mas eu quero usar o controle remoto.

A próxima estação é a RAI. A televisão italiana é incrível, tem sempre uma mulher linda de um metro e oitenta ao lado de um homem barrigudo de um e sessenta. Sempre, não, porque tem horas – não sei bem quais, vai tentar decifrar a programação deles na Internet – em que passa um programa chamado “Beato tra le Donne” que foge completamente desse padrão. Nele, são dúzias, dezenas, incontáveis mulheres lindas, lindas de dar raiva, e um apresentador, com pinta de galã dos anos 70, que fala com um cachorro. E o cachorro responde.

Pois bem, e de que trata “Beato tra le Donne” (“Feliz entre as Mulheres”)? Um grupo de rapazes disputa alguma coisa (desculpe, mas não entendi o que), e a cada rodada precisa exibir algum talento e ser julgado não só pela legião de boazudas no palco mas também pelos espectadores, que votam usando torpedos SMS dos seus celulares. As provas são muito rápidas, porque o que interessa é o que se passa entre elas: o momento em que os boys são julgados e um deles é eliminado. Eles ficam em fila e as mulheres lindas, de biquíni, passam diante deles, rebolam, se insinuam, fazem cara de nojinho pra uns e pra outros até que empurram um dos caras dentro da piscina e o eliminam da competição.

Lembro dos ingleses e sua discussão sobre homens e mulheres, razão e sensibilidade. Vendo “Beato tra le Donne” fica tudo muito claro. Homens ou mulheres, a maioria é mesmo estúpida e boçal como esse programa italiano vazio, bobo, cretino, que só não é pior que os game shows brasileiros porque pelo menos não incita à violência ou à humilhação dos pobres, dos gays e outros suspeitos de sempre.

O programa é boçal, mas as mulheres são tão lindas. O programa é vazio, mas as mulheres são tão lindas. Olho para o lado e o menino não está mais brincando com o trem de trilho. Ele está de olho vidrado na TV. Ele só tem cinco anos, mas aquele organismo ali já está programada para pelo menos intuir que certas coisas conseguem ser mais fascinantes que um trem. Mesmo que de trilho.


Os livros na minha casa estão um caos absoluto. São muitos, embora bem menos do que eu gostaria de ter. Como arrumá-los? Por ordem alfabética de autor? Sim, por que não, mas... bom, não é muito do meu feitio, e nem acho que seja, para ser bem sincero, do feitio dos livros. Se assim fizesse, colocaria possivelmente Milton Hatoun e seu “Dois Irmãos” ao lado do “Breve História do Tempo”, de Stephen Hawkins. Não consigo imaginá-los se falando. E o seguinte na prateleira talvez fosse Nick Hornby e suas simpáticas crônicas dos londrinos de 30 e tantos anos. Nada a ver.


Cara-de-pau é defeito ou qualidade?


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