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segunda-feira, maio 26, 2003


You can see pictures from the shooting at the movie's fotolog. More pictures will be added while we film. Soon a weblog will be created specifically to the project. Meanwhile, I'll tell you everything about this amazing documentary about chess and catholicism here.


My new documentary film started shooting last Saturday, at a very small, amateur chess tournament held in Rio de Janeiro, Brazil. The film is co-directed by me and Vicente Amorim, photographed by Rodrigo Monte, and it's still untitled. Here is what's it about:

Henrique Mecking was Brazilian chess champion at 14. A few years later, in the early 70`s, he was considered the only Western player besides Bobby Fischer strong enough to defeat the powerful soviet players. Mequinho, as he is known in Brazil, was third of the world in 1977. And in 1979 he vanished from chess world because of a misterious disease, only to be found later transfigured into a fundamentalist catholic who strongly believed a miracle from the Virgin saved his life. He enter the seminar and decides to become a theologist. Now, he is back to chess because Jesus himself told him he should play. According to him, it`s his religious mission to play chess so to be famous again and save more and more souls.


sábado, maio 17, 2003


Não bastasse ter feito Boogie Nights, o cara ainda fez Magnolia. Agora, isso. Filho da puta esse cara.


"Embriagado de Amor" (Punch-Drunk Love), de P.T. Anderson. Só digo o seguinte: que coisa.


sexta-feira, maio 16, 2003


Situação do projeto: Mequinho já está de acordo. Já localizamos várias pessoas que tiveram contato com ele em diversos momentos de sua vida. Mais uma ou duas semanas de pesquisa e começamos o roteiro. Primeiras filmagens com ele devem ser em junho.


Projeto de Documentário

O projeto consiste em realizar um documentário biográfico sobre o mais importante enxadrista brasileiro, Henrique da Costa Mecking,o Mequinho, um esportista único em nossa história, um prodígio que esteve entre os maiores do mundo em sua atividade e que teve sua carreira brilhante interrompida no auge por uma doença grave e quase sempre mortal. Nosso herói sai de cena, em 1979, e torna-se uma lenda, até que se descobre que ele por milagre se salvara da Miastenia Gravis e se convertera num dos mais entusiásticos adeptos da Renovação Carismática Católica. Publica um livro – “Como Jesus Mudou Minha Vida” – torna-se um devoto fervoroso de Nossa Senhora e de São Lourenço, passa a professar curas em missas campais. E agora tenta um espetacular e quase milagroso retorno aos torneios internacionais, colocando a sua fé inabalável a serviço da mais cerebral das atividades humanas, ao mesmo tempo em que espera, ao reconquistar os títulos e as glórias no tabuleiro, fazer do xadrez um veículo de evangelização. Além de traçar um detalhado perfil de um personagem único, o filme irá mostrar todo o mundo “invisível” do xadrez no Brasil e retratar o impressionante crescimento do movimento da Renovação Carismática Católica em nosso país.


quinta-feira, maio 15, 2003


Uns dois anos atrás inventei um projeto de filme chamado "Imagens de um Cinegrafista Amador". Escrevi o roteiro, orcei, meti nuns concursos mas não ganhei nenhum. Não sei se um dia farei o filme. Hoje achei a primeira anotação, que deu origem ao projeto. Era assim:

Tudo que eu vejo é o rosto suado e impassível de uma jovem negra contra uma parede áspera. Essa jovem negra, muito jovem e muito negra, é a babá de um menino de dois anos que ela irá afogar no lago do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ou que já afogou, hoje mesmo, mais cedo. Ou que se afogará, amanhã ou depois. A imagem do rosto contra a parede crua é anterior e posterior à morte do menino e eu não sei em que momento estamos agora. Ela está a um ou dois dias, para frente ou para trás, do gesto, da corrida com o menino no colo, da água nos pulmões.

Nada do que Justina fez antes ou que viria fazer depois antecipa ou explica


quarta-feira, maio 14, 2003


É raro você se lembrar há quanto tempo conhece uma palavra. Pois eu me lembro bem há quanto tempo conheço a palavra procrastinação. Tem uns seis ou sete anos. Lá pra 96, eu frequentava um grupo de discussão (na então desconhecida internet) de roteiristas e escritores. Aprendi um monte de coisas ali. Uma delas foi a palavra proscratinação. Incrível como um estado de ser, uma prática, um defeito tão meu tivesse um nome e eu, logo eu que conheço tantos nomes de coisas e de nomes, não o conhecesse. Abracei a palavra nova, e sou até sovina com ela. Uso pouco, muito pouco. De procrastinação, basta a que eu faço.


Tudo me rouba tempo. Tudo.


Tudo que eu quero é ser dono do meu tempo e usar ele direito.


Eu tô assim de coisa pra escrever. Mas, diante do teclado, alguma coisa parece que segura a minha mão. Sério, parece uma força física, um peso. Além disso, escrever dá fome, sede, preguiça. É o mais ingrato dos trabalhos. Parece moleza. Quem olha, quem não faz, sempre acha que é mole. Eu tô assim de coisa pra fazer, e tudo me dispersa. Tenho que fazer o raio do curta, o meu curta. Será que eu sou um desses brasileiros vadios que só trabalha se tem um patrão escroto? merda, de novo isso aqui resvalando pro diário de Anne Frank.


terça-feira, maio 13, 2003


Detesto telefone.


segunda-feira, maio 12, 2003


Clara, minha filha de quatro anos, tem uma melhor amiga, Maria Antônia. Há pelo menos duas semanas ela vem falando do aniversário da Maria Antonia. Cabia a mim levá-la à festa, pois era meu fim-de-semana com ela. Já no sábado ela não falava em outra coisa. Domingo, almoço do dia das Mães, com a minha mãe, avó dela, os tios e primas, todo mundo viu ela se arrumar e ficar bonitinha pro aniversário. Saímos pra lá, convite na mão com o endereço. Chegamos no prédio e o porteiro: "a festa foi ontem".

Eu não lembro de ter ficado tão arrasado assim antes.

Clara nem se revoltou. Eu expliquei que papai tinha feito confusão, e pedi desculpas. Mas eu não chorei por um triz.


quinta-feira, maio 08, 2003


Email que recebi esta manhã:

Prezado David: Agradeço seu email, que me deixou muito contente. Estou interessado no filme que V. pretende fazer. Minha carreira enxadrística está em ascensão, pois minha saúde melhorou nos últimos meses , com as graças de Jesus e Nossa Senhora. Meu telefone é XXXXXXXXXXX; estou em casa quase todo o dia, com exceção de 19 às 21 horas. Gostaria de receber seu currículo e o do Vicente. Peço que me telefone com a máxima brevidade possível, pois vou viajar segunda-feira à noite , passarei uns 6 dias fora e gostaria que V. me ligasse logo que V. puder para conversarmos. Aguardo suas noticias, um abraço do Mequinho


quarta-feira, maio 07, 2003


Vocês (seja lá quem for que lê, e se lê, isso aqui) serão os primeiros a saber. Eu e meu velho amigo Vicente Amorim vamos fazer (na verdade, já estamos fazendo) um documentário sobre o Mequinho. Sim, o Mequinho, o enxadrista. Vai ser o melhor documentário brasileiro de todos os tempos.


Nelson Freire, documentário dirigido por João Moreira Salles, é uma coisa rara e boa de se ver: um filme feliz.


terça-feira, maio 06, 2003


Nas coxas

É óbvio para qualquer um que Deus fez o mundo nas coxas. Uma semana. Seis dias, na verdade. Nao dava nem para o sinteco e uma mão de tinta. O homem surgiu num mundo muito mal acabado, feito de pau e pedra, cheio de mosquito e tédio, uma imensa Mangaratiba. E Deus queria que o homem visse isso e achasse bom e vivesse assim, pastando, para sempre. Ou mais que isso, já que, num mundo como esse, o tempo nao faria muito sentido, a não ser na acepção meteorologica do termo: a grande diversao do Criador era e ainda parece ser a pirotecnia. Vulcões, tempestades, maremotos, raios e trovões. Grandes efeitos, verdade, mas um catalogo um tanto restrito.


Do fundo do baú

Já que é preciso começar por algum lugar, por que não aqui mesmo?,esse quarto, a cama agora quieta aqui às costas. As camas são sempre coadjuvantes nas histórias de sexo. Então trata se de sexo? Sim e como não?

Trata se de sexo e de uma cama e quase de passagem dos corpos que a ocupam. Protegida por colcha, lençóis, das secreções orgânicas, cinzas de cigarro, vodka e outros álcoois, a cama sustenta mais ou menos incólume o peso dos corpos que o tempo degrada.

Despersonalizar os atores, vê-los na dureza da sua materialidade, até reduzi-los à dureza transparente do vidro, não vê-los mais, ver apenas o movimento gracioso que sustenta. A cama é o que se move, ao percorrer o tempo que o sexo não captura.

Ver a respiração irregular e tensa do superfície do colchão. O esforço das estruturas, do estrado. A cama põe em movimento os corpos.


segunda-feira, maio 05, 2003


Encontrei o poeta Wally Salomão, morto hoje cedo, diversas vezes no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Nos conhecíamos de vista, ali do Jardim mesmo, e de um programa de debate sobre curtas-metragens do qual participamos juntos na TV-E. Na ocasião, foi exibido meu curta "Lona" (que eu co-dirigi com Vicente Amorim e Gustavo Cascon) e o curta "Ave", de Paulo Sacramento. Debatíamos entre amigos, eu, Paulo, Wally e a apresentadora do programa, amiga de longa data, Ivana Bentes. Foi ótimo.

Mas a lembrança mais legal do Wally é essa: estava com minha filha no Jardim Botãnico, ela então com quatro anos, e passamos pelo Wally. Acostumado e ver-me com ela ali desde que ela nasceu, ele comentou "tá grande, a menina, hein?". "Pois é, Wally", respondi. E ele: "Daqui a pouco tá bêbada por aí", retrucou o poeta.


domingo, maio 04, 2003


Mini conto à la Sergio Sant'Anna

Acordou pensando em comer a empregada. Ficou na cama sem pensar em nada. Quando pensou de novo ainda estava pensando em comer a empregada. Ficou na cama. Na terceira vez em que pensou, já tentava lembrar como seria a empregada. Tinha muita dificuldade em traçar uma imagem mental dela. Estava cansado e não sabia se estava em condições de traçar fosse o que fosse. Ficou na cama. Verificou que seu pênis estava ereto. Pensou em vestir uma calça de moletom e ir até a cozinha, passar entre a empregada – que a essa altura estaria à pia – e o fogão, roçando assim etc. e etc. Pensou que isso poderia ser constrangedor. Ficou na cama. Pensou que não sabia do que tinha maior pavor, se era de a empregada aceitar ou repelir o pênis – seu – sob a calça de moletom. Ficou na cama. Percebeu-se com vontade de mijar. Ficou na cama. Ficou na cama. Ficou na cama. Percebeu-se com muita vontade de mijar, e afinal levantou da cama. Vestiu a tal calça de moletom sobre o pênis, que permanecia ainda volumoso, embora não mais propriamente ereto. Saiu do quarto e, no caminho para o banheiro, passou pela empregada. Entrou no banheiro e trancou a porta. Mijou.

Resolveu tomar banho. Tirou a roupa. Ligou a água quente. Pegou o pênis na palma da mão. Já não pensava mais em comer a empregada. Ou pensava? Estava era com um tesão intransitivo que precisava encontrar um objeto. Olhou a porta trancada. Foi até a porta e destrancou-a, mantendo-a fechada.De frente para a porta, masturbou-se lentamente, imaginando que a empregada poderia ter reparado em seu pênis quase ereto quando ele passou por ela no corredor, e que ela poderia ter ficado excitada, e que ela poderia tê-lo escutado destrancando a porta, e que ela poderia querer entrar por aquela porta, e que ela poderia. Gozou. Ficou um instante com o pênis na mão, o esperma escorrendo pela mão e chegando ao chão do banheiro. Ficou então mais um instante parado. Então meteu a mão debaixo da água da pia, limpando o esperma dos dedos. Depois passou um pedaço de papel higiênico no chão, limpando o esperma dos azulejos. Discretos vestígios de esperma ficaram no chão e na pia. Foi tomar banho. Pensou que devia estar muito maluco para pensar em comer a empregada. Banhou-se longamente.

Enquanto ele acordava pensando em comer a empregada, ficava na cama, tentava traçar uma imagem mental da empregada, ficava mais na cama, verificava que o pênis estava ereto, ficava na cama, pensava em passar por trás da empregada junto à pia, ficava na cama, percebia-se afim de mijar, ficava na cama, ficava na cama, ficava na cama, afinal levantava da cama, passava pela empregada no corredor, entrava no banheiro, ligava a água quente, marturbava-se e afinal banhava-se longamente, enquanto tudo isso se passava com ele, ela, a empregada, não tinha feito tanta coisa.

Muito antes dele acordar e pensar em comê-la, a empregada acordara, lá em Deus-Me-Livre. Chacoalhara em ônibus e trem e de novo ônibus por um total de três horas. Chegara à casa do patrão adormecido às oito e meia da manhã e tratara de lavar a louça acumulada, retirar alimentos perecidos da geladeira, lavar os banheiros e varrer a sala, o escritório e o corredor, que era aonde estava quando o patrão saiu do quarto.

Ela viu o pênis volumoso (embora não propriamente ereto) do patrão sob o moletom quando ele saiu do quarto. Viu mas nem registrou. Nada lhe passou pela cabeça naquele momento. A visão de pênis entumescidos não é rara nem lhe incita fantasias na casa de três cômodos minúsculos em que vive, lá em Deus-Me-Livre, com marido, sogro, três filhos homens – o mais velho já com catorze anos - e um cunhado que diz que vai embora mas não vai embora nunca.


sábado, maio 03, 2003


Não há escritor que eu despreze mais, que mais me irrite, enganador maior, que esse poetastro Manuel de Barros.


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